Brasil | Nobel da Agricultura

Quarta-feira, 21 de Maio de 2025

A brasileira premiada com 'Nobel da Agricultura' por trabalho que mantém Brasil como 'celeiro do mundo'

As pesquisas comandadas por Hungria deram origem a dezenas de tratamentos biológicos para sementes que aumentaram significativamente a produtividade das principais culturas e reduziram a necessidade de fertilizantes químicos.

A engenheira agrônoma e pesquisadora brasileira Mariangela Hungria foi agraciada nesta terça-feira (12/5) com o Prêmio Mundial da Alimentação por seu trabalho com insumos biológicos que revolucionaram a agricultura no Brasil.

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O prêmio é conhecido como 'Nobel da Agricultura' e homenageia indivíduos que melhoraram a qualidade, a quantidade ou a disponibilidade de alimentos em todo o mundo.

As pesquisas comandadas por Hungria deram origem a dezenas de tratamentos biológicos para sementes que aumentaram significativamente a produtividade das principais culturas e reduziram a necessidade de fertilizantes químicos.

Estima-se que os produtos desenvolvidos pela engenheira agrônoma associada à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tenham sido utilizados em mais de 40 milhões de hectares no Brasil, gerando aos agricultores uma economia de até US$ 25 bilhões (R$127,5 bilhões) por ano em custos de insumos.

Os desenvolvimentos possibilitados pela pesquisa também evitaram a emissão de mais de 230 milhões de toneladas métricas de CO₂ equivalente por ano.

Autora de mais de 500 artigos, capítulos e publicações acadêmicas, ela também produziu o primeiro manual em português para métodos de microbiologia do solo adaptados aos trópicos.

Por seu trabalho, Mariangela Hungria é considerada 'mãe da microbiologia' no Brasil.

"É uma emoção incrível receber esse prêmio", disse a pesquisadora de 67 anos à BBC Brasil. "Acho que o diferencial que me destacou foi a persistência: mais de 40 anos acreditando que os biológicos poderiam ser uma solução viável economicamente e de alto rendimento."

O Prêmio Mundial da Alimentação foi criado em 1986 e já condecorou outros três brasileiros além de Hungria.

Em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paolinelli foram homenageados, juntamente com o cientista americano Andrew Colin McClung, por seus papéis fundamentais na transformação do Cerrado brasileiro. E em 2011, o então ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o prêmio ao lado do ex-presidente ganês John Agyekum Kufuor por sua atuação no combate à fome.

O anúncio do Prêmio Mundial da Alimentação deste ano foi feito na sede internacional da organização, em Des Moines, Iowa, Estados Unidos.

"Como pioneira industrial e mãe, a Dra. Hungria serve como um exemplo inspirador para mulheres pesquisadoras que buscam incorporar ambos os papéis. Suas descobertas e desenvolvimentos lançaram o Brasil para se tornar um celeiro global", disse a governadora de Iowa, Kim Reynolds, que presidiu a cerimônia.

Uma nova 'Revolução Verde'

O prêmio foi fundado por Norman Ernest Borlaug, que recebeu o Nobel da Paz em 1970 pelo seu papel na Revolução Verde. O movimento foi um marco histórico que transformou profundamente a agricultura e a economia mundial, possibilitando a produção em larga escala de grãos e alimentos essenciais.

O modelo se baseou, entre outras coisas, na intensiva utilização de sementes geneticamente alteradas, fertilizantes e agrotóxicos.

Já o trabalho de Mariangela Hungria foi bem-sucedido em justamente buscar alternativas biológicas para os fertilizantes químicos.

"Muita gente dizia que isso não teria futuro, que biológicos não dariam altos rendimentos para a agricultura. Mas eu nunca desisti", disse à BBC.

Os inoculantes, que são um de seus focos de pesquisa há pelo menos três décadas, são produtos não químicos que ajudam as plantas na absorção dos nutrientes. Podem conter microrganismos benéficos para o desenvolvimento vegetativo, como bactérias e fungos.

Hungria foi uma das primeiras proponentes da fixação biológica de nitrogênio. O método desenvolvido pela pesquisadora e seus colegas usa bactérias fixadoras para converter o nitrogênio do ar, que é abundante mas inacessível para plantas e animais, em formas que as plantas conseguem absorver e utilizar para seu crescimento.

"Se não fosse esse processo natural, teríamos que usar fertilizantes químicos que consomem muita energia — cerca de seis barris de petróleo por tonelada de nitrogênio produzido", explica Hungria.

"O nitrogênio fertilizante é o mais poluente de todos os nutrientes. Segundo o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], cada 1 kg de nitrogênio equivale a 10 kg de CO₂."

'Bactérias do bem'

A pesquisadora começou estudando rizóbios, um tipo de bactéria que interage com as raízes de leguminosas para fornecer nitrogênio em troca de energia. Ela descobriu que a aplicação dessa cepa à soja por meio de um inoculante anualmente poderia aumentar a produtividade em até 8% em comparação com o uso de fertilizantes sintéticos.

A brasileira também foi a primeira a lançar cepas comerciais da bactéria Azospirillum brasilense. Sua pesquisa mostrou que a combinação e a aplicação de Azospirillum brasilense e rizóbios poderia dobrar o aumento da produtividade em feijão e soja.

"O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo graças ao uso dessas bactérias. Sem elas, seria inviável economicamente", diz Hungria.

Segundo a microbiologista da Embrapa, ainda que o uso de fertilizantes químicos predomine no Brasil hoje, os inoculantes são importantes porque podem ser produzidos nacionalmente, enquanto a grande maioria dos fertilizantes utilizados em solo brasileiro são importados.

Atualmente, o país importa cerca de 85% de todos os fertilizantes químicos necessários para a agricultura nacional.

 

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